AGRONEGÓCIO

“Coma menos, coma melhor” – e mais caro, esqueceram de dizer

Especial para o BSM · 14 de Setembro de 2022 às 16:09 ·

Boi abatido aos 10 anos e outros apelos ao bem-estar dos animais. O objetivo é elitizar o consumo de carne e privilegiar os oligopólios

 

Lucas Fófano
        Especial para o BSM

Domingo à tarde, crianças dormindo e um documentário sobre grandes pizzaiolos, uma tarde comum. Lá pelas tantas, senti um desconforto, como se a mão começasse a suar um pouco. Era uma propaganda, uma propaganda discreta no meio do documentário:

– Só usamos carne de animais que viveram bem – disse o chef, enquanto olhava uma bela peça de costela com a gordura amarelinha, como exigem os amigos que não entendem nada de churrasco e afiam a faca nas costas do garfo (há quem diga que se conhece uma pessoa pela maneira como ela afia a faca.)

“Poxa vida!, até aqui esse negócio?”, pensei. 

– Que negócio? – pode me perguntar o leitor.

A glamourização da carne. 

Não é de hoje que o eixo de propaganda da carne (permitida, por enquanto) vem mudando de direção. Antes, a propaganda legítima dos velhos açougueiros era um pedido de clemência para que os cunhados parassem de estragar o churrasco da família comprando coxão mole, à moda da frigideira, para assar na grelha junto com um pão de alho mal cortado e torrado feito café. Quem não se lembra do Marcos Bassi ensinando como se assa uma fraldinha, a altura entre grelha e braseiro, a maneira certa de se cortar a carne e a paciência com a sogra que pede aquela carninha ao ponto da sola de sapatão? Esse era um movimento genuíno, brasileiro, um bê-á-bá de como fazer o simples bem feito, valorizando nossos cortes e nosso paladar. 

Acontece que esse movimento evoluiu, adicionaram uns ossos aqui, retiraram outros ali e a nossa bisteca se tornou o Prime Rib: um corte espetacular, surpreendentemente delicioso, composto por um pedaço de osso de costela e a carne de uma... bisteca. O dobro do preço por um pedaço a mais de osso. Mas, claro!, existe a mão de obra do artesão que transformou aquela bisteca do churrasqueiro barrigudo raiz, aquele mesmo que fazia churrasco até com madeira de sofá, num corte nobre da rapaziada da caneca Stanley.

O preço da carne migrou. Ele não está mais baseado na arroba (...)

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