INTERNACIONAL

Maduro faz um discurso se vangloriando de um “sucesso econômico”, atacando inimigos e denúncias de tentativas de magnicídio

Lucas Ribeiro · 17 de Janeiro de 2024 às 08:01 ·

Maduro também usou sua plataforma para criticar líderes regionais e reiterar suas posições em assuntos internacionais. Ele se referiu ao presidente argentino Javier Milei como um "erro fatal" por suas políticas econômicas e ofereceu ajuda ao Equador em questões penitenciárias

Nicolás Maduro, em sua recente apresentação de rendição de contas à Assembleia Nacional da Venezuela, destacou o que considera serem os sucessos econômicos de seu governo, apesar das críticas e da realidade que enfrentam os cidadãos venezuelanos. Durante um discurso de cinco horas, Maduro enfatizou uma suposta recuperação econômica do país em 2023, alegando um crescimento do PIB de mais de 5%, o maior da América Latina e do Caribe, e projetando um aumento de 8% para 2024.

Neste contexto, Maduro anunciou um aumento salarial para os trabalhadores públicos, elevando o "ingreso mínimo integral indexado" (IMII) de 70 para 100 dólares, através de bonificações mensurais. Apesar disso, o salário mínimo fixado pelo governo permanece em cerca de 3,6 dólares mensais, evidenciando a desconexão entre as políticas governamentais e a realidade econômica do país. Adicionalmente, o presidente venezuelano denunciou as sanções internacionais, especialmente dos Estados Unidos, como responsáveis por um "genocídio econômico", alegando que o país deixou de receber 642.000 milhões de dólares de 2015 a 2022 devido a estas medidas.

Maduro também usou sua plataforma para criticar líderes regionais e reiterar suas posições em assuntos internacionais. Ele se referiu ao presidente argentino Javier Milei como um "erro fatal" por suas políticas econômicas e ofereceu ajuda ao Equador em questões penitenciárias. Além disso, acusou os Estados Unidos de violar diariamente os direitos humanos da Venezuela, mantendo as sanções, apesar de algumas terem sido flexibilizadas recentemente.

Nesse mesmo discurso, Nicolás Maduro fez alegações bombásticas sobre quatro tentativas frustradas de assassinato em contra a si, supostamente ocorridas em maio, agosto, novembro e dezembro. Maduro apontou como responsáveis os Estados Unidos, a oposição venezuelana e narcotraficantes colombianos, citando especificamente Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas. "Desmantelamos... quatro conspirações com componentes estrangeiros, planejadas de Miami e da Colômbia", afirmou, embora detalhes concretos sobre os detidos, incluindo "mercenários e militares" de vários países, permaneçam escassos.

Ainda no mesmo contexto, Maduro surpreendeu o mundo ao promover Alex Saab, acusado nos Estados Unidos de ser seu testa-de-ferro, nomeando-o presidente do “Centro Internacional de Inversión Productiva”. "Alex, confio em ti", declarou Maduro, desafiando as críticas internacionais e intensificando as tensões com os Estados Unidos e outros países que veem Saab como chave em redes de corrupção ligadas ao narco-governo venezuelano.

Embora Nicolás Maduro tenha apresentado um cenário otimista sobre a economia venezuelana em sua recente rendição de contas, é evidente que há uma grande desconexão entre a retórica do presidente e a realidade vivida pela população. Maduro, agindo como um ilusionista político, atribuiu o suposto crescimento econômico do país – que ele afirmou ter superado 5% do PIB em 2023 – ao programa Gran Misión Agrovenezuela. Contudo, esses números contrastam fortemente com a situação diária dos cidadãos que enfrentam dificuldades na aquisição de alimentos e com uma agricultura incapaz de atender às necessidades nacionais. Sua tentativa de desviar a atenção da inflação descontrolada e da crise econômica se torna ainda mais questionável ao considerar a falta de confiabilidade das estatísticas oficiais do país.

Além disso, a postura de Maduro em pintar os Estados Unidos como o principal vilão, responsabilizando o país por um "genocidio econômico" devido às sanções internacionais, ignora o papel crítico de sua própria administração nas adversidades econômicas da Venezuela. As sanções, de fato, impactam a economia debilitada, mas são consequência do avanço autoritário e da má gestão econômica de Maduro. A retórica do presidente, ao criticar líderes regionais e oferecer ajuda a outros países, parece mais uma manobra para desviar a atenção dos problemas internos e posicionar-se como um influente líder regional, apesar da total desconfiança e ceticismo de sua população e da comunidade internacional.

Em conclusão, a apresentação de Maduro na Assembleia Nacional foi marcada por autoindulgência e manipulação de números, característica do chavismo, onde a farsa retórica é usada para ofuscar a dura realidade de uma nação em crise. As alegações de um robusto crescimento econômico e melhorias sociais colidem com a crise humanitária, inflação desenfreada e insegurança alimentar que assolam os venezuelanos. Essa narrativa de Maduro, entremeada de acusações de conspirações e genocídio econômico, destaca-se como um esforço desesperado para reescrever a história de um governo marcado por fracassos e desmandos, usando a retórica como cortina de fumaça para encobrir a verdadeira face de um regime falho e tirânico.

 


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