DIÁRIO DA AMÉRICA

O descarrilhamento da civilização e o acidente de Ohio

Braulia Ribeiro · 23 de Fevereiro de 2023 às 15:22 ·

Filme de 2022 traz semelhanças espantosas com o desastre ambiental ocorrido no estado americano. Braulia Ribeiro explica o que isso tem a ver com a crise espiritual do país
 

 



O filme White Noise (Ruído Branco), de 2022, dirigido por Noah Baumbach e baseado no romance de Don DeLillo, narra a história de uma família de Ohio que precisa deixar sua casa depois de “evento tóxico aéreo” causado por desastre de trem. Um caminhão se choca contra um trem carregado de produtos químicos, os trens explodem e descarrilham. A cidadezinha de Ohio vê a nuvem química causada pela explosão tomar o céu. Homens vestidos de roupas protetoras invadem a cidade, assegurando aos cidadãos, esses sem proteção, que tudo vai ficar bem. O filme ganhou alguns prêmios de crítica, e iria ser rapidamente esquecido. Era mais um desses que empolgam os críticos, mas não dão público.

Mas a história do filme se transportou das telas para a realidade.

No dia 3 de fevereiro, um trem levando cargas químicas altamente tóxicas descarrilhou perto da cidade de Palestina do Leste, no estado de Ohio, quase nas fronteiras da Pensilvânia e da West Virginia. A população da cidadezinha de 4,8 mil habitantes foi notificada imediatamente. Vagões se incendiaram e uma nuvem negra se projetou aos céus. Mas o governo do estado (e depois o federal) lhes garantiu que estava tudo sob controle. A agência de proteção ambiental EPA não se pronunciou e tudo ocorreu como se o desastre fosse mínimo. Foram 36 vagões descarrilhados no comboio de 150. Desses 36, cinco transportavam uma substância cangerígena — vinyl chloride — usada para fazer PVC, que normalmente é transportada em forma líquida. Outros cinco carros transportavam produtos químicos tóxicos, em nível um pouco menor, mas igualmente merecedores de cuidados. Os habitantes foram aconselhados por autoridades locais a permanecer em suas casas se estivessem a mais de uma milha de distância do acidente. Os que estavam no perímetro de risco, menos de 2 quilômetros quadrados, saíram por um ou dois dias e logo depois foram instados a retornar. De acordo com a EPA, a zona estava segura.

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