MANIFESTAÇÃO

“O mundo começa a descobrir a verdade sobre o Brasil”, diz Bolsonaro à multidão em Copacabana

Especial para o BSM · 21 de Abril de 2024 às 16:34 ·

Segundo ato pacífico convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro foi marcado por falas em defesa da liberdade de expressão e pesadas críticas a Alexandre de Moraes

Renan Rovaris
Especial para o BSM


A praia de Copacabana foi tomada por uma multidão neste domingo, 21 de abril, Dia de Tiradentes, na segunda manifestação pacífica em favor do estado de direito e da democracia convocada pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e organizada pelo pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo. O ato foi realizado menos de dois meses após Bolsonaro reunir uma multidão na Avenida Paulista, em São Paulo, em 25 de fevereiro. Nas palavras de Bolsonaro, a manifestação levaria informações “sobre o nosso Estado Democrático de Direito” e também trataria sobre “a maior fake news da história do Brasil, que está resumida, hoje, na minuta de golpe”.

Desde cedo, milhares de pessoas já se concentravam no cruzamento da avenida Atlântida com a rua Bolívar. Por volta das 9h30 da manhã, o ex-chefe do Executivo marcava presença em Copacabana, recebido com gritos de “mito” pelos manifestantes.

O primeiro a saudar a multidão foi o general Walter Braga Netto, seguido pelo jornalista português Sérgio Tavares, que foi detido pela Polícia Federal para interrogatório quando veio cobrir o ato de Bolsonaro em São Paulo. “O mundo já sabe o que vocês estão passando”, disse o jornalista em seu discurso. Também marcaram presença o governador do Rio, Cláudio Castro, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que fez uma oração e pediu por uma renovação política no país. “Precisamos de nova política, de gente de bem, que não vai aprisionar o seu povo.” Também discursaram o deputado federal Gustavo Gayer, a jornalista Zoe Martínez, o deputado federal Marco Feliciano, que pediu pelo "fim da censura" no Brasil, e o deputado federal Nikolas Ferreira, que criticou o governo Lula e saudou Elon Musk pela luta em nome da liberdade no nosso país. Os principais discursos da manhã, porém, ficaram a cargo de Malafaia e Bolsonaro.

Silas Malafaia foi recebido com empolgação pelos manifestantes, dizendo que faria “denúncias gravíssimas”. Chamando de “bandidagem” a narrativa da “minuta do golpe”, o pastor questionou a legalidade do que intitulou de “documento sugestivo para análise dos comandantes militares”. “Minuta de golpe é a maior fake news da história política do Brasil. Bolsonaro não propôs golpe de Estado. Se minuta de golpe é fake news, inquérito de pseudogolpe é uma farsa para atingir Jair Messias Bolsonaro”, afirmou Malafaia. Citando o Código Penal, ele disse que não houve impedimento do livre exercicio dos poderes constitucionais durante as últimas eleições majoritárias no Brasil, e que, portanto, não houve tentativa de golpe. Segundo ele, o inquérito sobre a minuta do golpe é uma “safadeza política, molecagem, para atingir Bolsonaro”.

Silas também rememorou fatos sobre as antigas rixas entre Alexandre de Moraes e outros integrantes do Supremo Tribunal Federal com o Partido dos Trabalhadores. Relembrando que Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes chamaram Lula e PT de ladrões no passado, o pastor criticou as investigações contra o deputado Nikolas Ferreira, que está sendo inquirido por ter chamado Lula de ladrão. Neste momento, a multidão de manifestantes gritava, em uníssono, “Lula ladrão”.

O pastor chamou o Inquérito das Fake News — o famigerado Inquérito Fim do Mundo — de “imoral e ilegal”, pois, segundo ele, traz Alexandre de Moraes como vítima, delegado, procurador, investigador e juiz – uma “aberração jurídica”. “E por que é ilegal? Porque não tem a participação do Ministério Público, que é obrigatória segundo o Artigo 129 da Constituição Federal de 1988,” completou o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

O religioso também afirmou que Oswaldo Eustáquio e Daniel Silveira estão presos por “crime de opinião”, e que Filipe G. Martins, “um jovem inteligentíssimo, está preso por pura safadeza”. "Esse jogo safado de querer controlar rede social é pra impor uma ditadura a você! Crime de opinião", disse o pastor, questionando nominalmente o ministro do Supremo: “Alexandre de Moraes, quem te colocou como censor da democracia? Quem é você pra dizer o que um brasileiro pode ou não falar?” Ainda tecendo críticas contra Moraes, Malafaia disse: “A Globo é a imprensa oficial do ditador da toga”, e completou afirmando que Alexandre de Moraes “é uma ameaça à democracia”. “Ele rasgou o Artigo 5º da Constituição, rasgou a liberdade de expressão, a liberdade de consciência e a liberdade de livre manifestação.” Lembrando dos presos do 8 de janeiro, o pastor afirmou que esses brasileiros “foram levados como gado e marginais, e condenados por esse ditador. Faxineiras, idosos, mulheres, homens, sem o direito de recorrer.” E sentenciou: “Alexandre de Moraes está jogando o STF na lata do lixo da moralidade.”

Referindo-se ao senador Rodrigo Pacheco, Silas bradou: “O senhor, presidente do Senado — até aqui, frouxo, covarde, omisso —, envergonha a honra do povo mineiro que o elegeu”. E acrescentou que “grande parte dos senadores é comprada por cargos desse governo e se omitem. Rodrigo Pacheco vai ser acusado de prevaricação.”

Ao final de seu discurso, Silas Malafaia chamou Jair Bolsonaro ao seu lado e lhe disse: “Você é o cara que Deus levantou, neste tempo, na nação. Não tenha medo dos seus inimigos, porque maior é o que está com você do que o que está com eles. Vai chegar a hora de Deus te honrar. Nós vamos ver essa gente ruim cair!”

Jair Bolsonaro iniciou seu discurso dizendo que “o sistema” não gostou de sua vitória em 2018. “As provas estão chegando”, afirmou. O ex-presidente ainda disse que, por meio da censura, o sistema “elegeu o maior ladrão da história do Brasil, um amante de ditaduras, amigo de Fidel e Maduro, que está do lado do Irã e do Hamas.” E prosseguiu: “O que eles querem, de fato, é a ditadura. [...] Com o controle social da mídia, com regulação, é impossível falar em democracia. [...] Isso que temos aí é democracia? Mais do que interferir, eles querem nos calar para que a verdade como um todo não chegue à tona. [...] Temos que lutar. Caso contrário, iremos para o abatedouro como cordeirinhos.”

Pedindo uma salva de palmas para Elon Musk, Bolsonaro afirmou: “Acusam agora o homem mais rico do mundo, que é dono de uma plataforma cujo objetivo é fazer com que o mundo todo seja livre; é um homem que realmente preza pela liberdade para todos nós; é um homem que teve a coragem de mostrar, já com algumas provas — outras virão com toda certeza —, pra onde nossa democracia estava indo, o quanto de liberdade que já perdemos.” Ainda falando sobre o dono da plataforma X, o ex-presidente também criticou o que chamou de “consórcio capitaneado pelo sistema Globo”, que, segundo ele, teve a “desfaçatez” de dizer que o bilionário “está atacando a democracia para impor, aqui, uma ditadura”, e questionou: “como Elon Musk quer impor uma ditadura, se, nas ditaduras, não há liberdade, não tem economia, e ele, com o que ele vende, não teria como ganhar absolutamente nada aqui no Brasil?”

O ponto alto do discurso do ex-presidente, porém, foi o desafio que fez contra o que chamou de “sistema”, ao relembrar um pouco de sua trajetória política recente. “O sistema não quer gente como eu na Presidência da República”, disse o ex-chefe do Executivo. “Podem me chamar de tosco, de grosso, inventar fake news de toda forma possível, mas não vão me chamar de ladrão! [...] Eu me reuni com embaixadores, não com traficantes, completou.

Bolsonaro confessou que sua vida ficou difícil porque escolheu um lado na disputa política brasileira: “Não foi o lado mais fácil, que é o lado do poder, dos engravatados que não têm coragem de subir num carro como este. Eu escolhi o lado do povo brasileiro. [...] Eu poderia estar nos Estados Unidos tendo uma vida muito tranquila, mas não poderia abandonar vocês, abandonar o meu Brasil.”

Afirmando correr riscos — e vestindo por baixo da camisa da Seleção Brasileira o que parecia ser um colete à prova de balas —, Bolsonaro afirmou ainda: “O que o sistema — que começa a ser desnudado — realmente quer não é apenas me tornar inelegível; não é apenas me jogar numa cadeia: o sistema quer concluir o trabalho de Juiz de Fora. Ao sistema, interessa me ver fora de combate em definitivo. [...] Mas nós temos duas coisas ao nosso lado: a maioria do povo brasileiro e o nosso bom Deus.”

Criticando a censura por parte do Judiciário, Bolsonaro afirmou que “A grandeza do Brasil só poderá ser atingida se tivermos liberdade de expressão, se o nosso povo tiver algo tão importante quanto a sua vida: a liberdade.” Ele também pontuou o recente despertar da mídia internacional sobre a situação da democracia no Brasil. Para o ex-presidente, “Começamos a ter voz fora do Brasil. O mundo vai saber o quão ameaçada está a nossa democracia.”

Pedindo licença a Silas Malafaia e Marco Feliciano, Bolsonaro também deu um tom pastoral à sua fala no carro de som. Citando a Bíblia, o ex-presidente afirmou: “Você deve tentar fazer tudo o que estiver ao seu alcance. Quando não for mais possível, entregue nas mãos de Deus. Vamos cada um fazer a sua parte. [...] Se algo ruim acontecer comigo, não desanimem: continuem a luta, porque os covardes só podem fazer uma coisa comigo. Eles querem concluir o 6 de setembro de 2018, na pessoa de um soldado deles: Adélio Bispo.”

Bolsonaro concluiu desafiando a mídia a mostrar o texto da “tal minuta do golpe” e fazendo menção aos presos do 8 de janeiro. Após afirmar que os filhos dos brasileiros detidos em Brasília no ano passado são “órfãos de pais vivos”, o ex-presidente relembrou que “sempre existiu anistia no Brasil. [...] Ninguém tentou tomar o poder por meio de armas em Brasília. [...] Aquelas pessoas estavam com a bandeira verde e amarela nas costas, e muitas delas carregavam a Bíblia debaixo do braço. Não queiram condenar um número absurdo de pessoas — como se fossem terroristas e golpistas — porque alguns erraram invadindo e depredando patrimônio.” Deixando claro que não estava duvidando das eleições, Bolsonaro afirmou ainda que “o que mais queremos é Justiça com J maiúsculo; que o Brasil volte à sua normalidade; que possamos realizar eleições sem suspeita. [...] A alma da democracia quer uma eleição limpa [...] Pela primeira vez na história do Brasil, estamos vendo um presidente eleito sem o povo ao seu lado.

 


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