COLONIZAÇÃO EDUCACIONAL

Plano Nacional de Educação: “Estamos fabricando uma geração de idiotas”

Especial para o BSM · 24 de Abril de 2024 às 12:34 ·

O professor e escritor Jean-Marie Lambert faz uma análise profunda sobre o modelo de educação proposto pela CONAE: “Querem transformar cada escola em uma franquia cultural da ONU para produção em massa de militantes progressistas”

Por Jean-Marie Lambert


O Brasil vive tempos de colonização educacional. Importa quadros de raciocínio, reflexos culturais, automatismos ideológicos, conteúdos curriculares e métodos pedagógicos incubados nas universidades norte-americanas para difusão periférica via UNESCO.

Com consequências dramáticas, por sinal, porque já se foram os tempos em que o alvo pedagógico era o intelecto. Acabou a escola que priorizava tabuada, matemática, português, química, física, pontos e vírgulas — enfim, aquele bloco de conhecimentos básicos que realmente emancipam o cidadão na vida. A dimensão cognitiva do ensino se tornou secundária, pois a educação UNESCO é essencialmente atitudinal.

Produzir autonomia intelectual ou capacidade de recuo crítico já não está em pauta. Interessa antes trabalhar os afetos, as emoções, os sentimentos, o foro íntimo e o imaginário para induzir comportamentos, gerar funcionalidade política, criar operacionalidade cultural e fomentar o ajuste psicológico a essa forma moderna de imperialismo que a ciência política chama de globalismo. Uma perspectiva a converter cada escola em franquia cultural da ONU, para confundir ensino com engenharia social, transformar   a sala de aula em linha de montagem de cabecinhas politicamente corretas e reduzir a escola a fábrica de eleitores progressistas.

Engana-se quem imagina tratar-se de um fenômeno local. Basta conversar com minha sobrinha que é professora na Bélgica para perceber a extensão da coisa. Porque o papo dela é exatamente o mesmo que a prosa de uma professora brasileira: é minoria, gay, trans, preconceito, opressão, discriminação, índio, mulher, negro, mudanças climáticas, sustentabilidade, biodiversidade e pum de vaca para destruir a camada de ozônio. Mesmos clichês, mesmos estereótipos, mesmo discurso...

Logo, há claramente uma padronização internacional da formação docente. Engoliram o mesmo disco. É óbvio que a professora belga saiu do mesmo molde que a brasileira. Ambas aprenderam a mesma coisa na faculdade de pedagogia, dos dois lados do Atlântico. O que viram na mídia, nas novelas, no cinema, ademais, é a mesma coisa. E se a professora belga tem a mesma cabeça que a professora brasileira, a criança belga também tem a mesma cabeça que a criança brasileira ... ou colombiana, canadense, holandesa ... porque o aluno é destinatário último da lavagem cerebral ... e a observação vale para qualquer país que importa a matriz UNESCO. 

Logo, a UNESCO — que ensina antes a sentir que a pensar — está formatando um cidadão universal. Uma espécie de cidadão Coca-Cola. Igual na França, nos Estados Unidos, na Austrália. Está produzindo um modelo antropológico único. Um homem de emotividade e racionalidade homogênea. A UNESCO está confeccionando uniformidade e conformismo ideológico ... falando paradoxalmente em diversidade. E da forma mais totalitária, inclusive, porque não admite a mínima dissidência.

A catarse esquerdo-globalista da CONAE deu disso uma amostra claríssima. “Intolerantes” como eu não abrem a boca em um evento desses, porque os tolerantes que nem eles não toleram os intolerantes que nem eu. Uma mecânica mental que não deixou um milímetro de espaço qualquer pensamento diferente, apesar da reafirmação obsessiva do direito à diferença! Talvez para travesti, bissexual ou mulher de testículos e homem de vagina. Mas onde cabe, em tal ambiente, o diferente cuja diferença é justamente de não gostar daquelas diferenças? Inclusão, sim. Mas excluindo homofóbico, sexista, machista, misógino, negacionista, fascista e todo o resto... O que dá mais que meio mundo. De forma que o que moveu a CONAE, é a ideologia mais estreita, autoritária, intolerante e excludente que se possa imaginar... malgrado a ilusão generalizada de abertura mental e pluralismo.

Então, temos que ficar muito atentos a esse fenômeno, porque é essa mentalidade simplória que está moldando o PNE para limitar nossos filhos e netos aos próprios limites. Logo, estamos partindo para fabricar gerações de idiotas.

É legítimo perguntar por que todo mundo tem que pensar igual. Por que um belga não pode pensar diferente de um brasileiro ou de um japonês, como era antes? Por que, agora, esse hercúleo esforço de engenharia cultural para uniformizar pensamentos, sentimentos, atitudes e comportamentos? A resposta é simples. É porque existe um projeto de governança global que não funciona sem isso.

É como uma montadora de carros lançando um modelo novo e colocando um milhão de carros iguais no mercado. Ela tem que fabricar um milhão de consumidores iguais. Uniformizar os gostos, induzir as mesmas fantasias. Isso é marketing. Caso contrário, o carro vai ficar no pátio. Não vai achar comprador.

O problema é que se vende ideias políticas exatamente como se vende maionese ou manteiga. São as mesmas técnicas. Então, se a ONU quer vender um modelo único de “democracia” para o mundo inteiro, ela tem que padronizar os valores, as expectativas, as aspirações. Ela precisa fabricar milhões e milhões de eleitores iguais. Tem que padronizar os comportamentos eleitorais em escala mundial. E é precisamente a clonagem das mentes que faz a UNESCO. 

O problema para o cristão é que essa matriz educacional descristianiza o mundo para abrir caminho a outro sistema de crenças. O globalismo não trabalha apenas o plano político, ideológico, cultural, econômico ou militar. Ele também comporta uma vertente religiosa. Não se trata somente de conquistar mentes e corações. Esse sistema trava também uma batalha impiedosa pelas almas. Aquilo que muitos percebem como proselitismo político é também um proselitismo religioso. Então a cristandade mergulhou numa guerra de religião, que está perdendo, porque não sabe que está em guerra, ainda.

Logo, a guerra escolar que estamos vivendo é apenas uma faceta de uma guerra espiritual maior. E a matriz educacional UNESCO — que estamos importando — é parte disso. O modelo educacional, que pretende dar um salto com o próximo PNE, veicula outra forma de espiritualidade. Incompatível com a base judaico-cristã. É outra proposta civilizatória. Cristianismo e globalismo partem de premissas antinômicas. Não se misturam. Onde o globalismo avança, o cristianismo recua, e vice-versa.

O homossexualismo político é o gancho que puxa todo o credo. Mas é bom mentalizar que é como entrar num corredor ideológico onde uma coisa puxa a outra. Começa com LGBTismo. Daí, vai para o feminismo... Que puxa o antipatriarcalismo e toda essa carga antifamília... O antinatalismo... O abortismo... O racialismo... O indigenismo... O ambientalismo... O climatismo... O veganismo... Aí, você já está no budismo maconheiro... Para logo cair no ecologismo profundo...

Quando a mente chega nesse ponto, já fez a conversão. Já trocou o Pai Nosso pela Deusa Natureza, pela Mãe Terra ou por Gaia — ou seja como quiser chamar esse bezerro de ouro. E é bem o tipo de catequese que conduz a educação UNESCO.      

Falar de escola laica em tal contexto é uma falácia que mascara a verdadeira natureza da empreita. O modelo, na realidade, fomenta uma estruturação mental e afetiva espiritualmente direcionada, desmontando o cristianismo e transformando a educação pública em escola confessional da meta-religião globalista. Produz empatia, simpatia, antipatia, afinidade ou aversão na dosagem certa para a conversão. Produz propensão a trocar uma fé pela outra. Vende relativismo, multiculturalismo, interculturalismo. Ou seja, desativa as defesas imunológicas da cultura bíblica para entregá-la incauta à contaminação de fora e fornece, ao mesmo tempo, os insumos de uma bricolagem espiritual a cargo de cada um na vida.

Do relativismo cultural para o relativismo religioso, a distância é curta. Uma mente usinada nos parâmetros do multiculturalismo pende quase automaticamente para o ecumenismo religioso, e daí para o igualitarismo religioso, para a indiferenciação religiosa e para a perda de identidade religiosa, só há um passo. E quando se chega nesse ponto, evangelismo, ioga, candomblé ou devoção a Maria... tanto fez e tanto faz, que é tudo a mesma coisa. Uma mente assim torneada se abre naturalmente a qualquer coisa. E é bem o tipo de terraplanagem apostólica que faz a escola progressista.

Logo, nosso modelo educacional não descristianiza na cara dura. Opera de forma mais sutil. Por tratamento homeopático. No conta-gotas. E por isso mesmo, não suscita resistência. Mas fragiliza os pressupostos civilizatórios do cristianismo, criando disponibilidade para outra coisa. Geralmente, por exposição sistemática a certas ideias e desvalorização de outras.

De forma exemplificativa, não execra abertamente o Pai Eterno, para venerar a Mãe Terra, mas bombardeia o educando com uma dose cavalar de ecologismo que gera inclinação à troca.

Eu não posso explicar o fenômeno em algumas linhas. Tudo isso é sutil e complexo. Apenas, consigo evocar o problema. Mas ele é real. Não é paranoia minha.

Com esse tipo de ensino, um pai cristão não reconhece mais o próprio filho a meio caminho do secundário. Então, cristão, se você quiser sobreviver, está passando da hora de avisar a ONU que o Brasil tem dono, porque planejaram sua extinção e estão instrumentalizando a escola para tanto. E o primeiro passo é conversar com seu eleito no Congresso para vetar o Plano Nacional de Educação ora em gestação, porque ele vem para potencializar a coisa.    

Jean-Maria Lambert é escritor, professor e jurista. Mestre em Direito Internacional (Universidade Livre de Bruxelas), doutor em Ciências Políticas (Universidade de Liège), pós-doutor em Ciências da Religião (PUC-GO). Autor dos livros “Educação Unesco — A Clonagem das Mentes”, “Ministério Público para rir e chorar” (com Márcio Chila), “A Unesco por trás do espelho” e “O Mundo entre Cristianismo e Globalismo” (com Lucas Ferreira Leite).

 


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